“Quero lhe implorar Para que seja paciente Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar as perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira. Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora. Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.”
Livro: Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke.
Quando um mal estar surge, um adoecimento se instala, trazendo angústia e sofrimento é muito legítimo que desejemos soluções e alívio. Vivemos numa cultura muito acelerada, que nos convida a todo tempo olharmos para nossa vida de forma objetiva.
Muito cedo vamos sendo cooptados por ideais de desempenho e produtividade e diante de dificuldades fomos ensinados a procurar por resultados e certezas. Venho sentindo que cada vez temos menos autorização para o "não saber" e para sustentar dúvidas. Nesse afã por respostas muitas vezes vamos tocando a vida usando referenciais alheios e ficando com um desconforto existencial ou uma sensação de insatisfação recorrente.
No entanto, para nós psicoterapeutas, o sofrimento precisa ser escutado e não solucionado, ele nos orienta na nossa atividade de compreensão da pessoa que busca nosso cuidado. Um processo terapêutico é sempre um convite para sairmos de uma relação de objetificação conosco, onde nos tratamos como problemas que precisam ser resolvidos, e passamos a nos escutar e nos familiarizar com a experiência interna.
Viver é artesanal. Muitas vezes um não sei acolhido é uma porta que se abre para investigações profundas. Nesse sentido as palavras do poeta Rilke são um convite a esse mergulho para dentro e um lembrete que a vida é processo.
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